abril 22, 2004

E CLÁUDIO MANUEL DA COSTA. Cláudio Manuel da Costa é um dos poetas mais singulares do barroco brasileiro (e de Minas, a que dedicou estes versos: «Destes penhascos fez a natureza/ O berço, em que nasci: oh quem cuidara/ Que entre penhas tão duras se criara/ Uma alma terna, um peito sem dureza! »), circulando entre Vila Rica (Ouro Preto), Rio de Janeiro e Coimbra – além de ser um dos conspiradores da Inconfidência Mineira. Este é, a meu ver, um dos sonetos mais perfeitos de Cláudio Manuel da Costa (apesar de o cânone registar sobretudo o «Leia a posteridade, ó pátrio Rio»):

«Este é o rio, a montanha é esta,
Estes os troncos, estes os rochedos;
São estes inda os mesmos arvoredos;
Esta é a mesma rústica floresta.

Tudo cheio de horror se manifesta,
Rio, montanha, troncos, e penedos;
Que de amor nos suavíssimos enredos
Foi cena alegre, e urna é já funesta.

Oh quão lembrado estou de haver subido
Aquele monte, e as vezes, que baixando
Deixei do pranto o vale umedecido!

Tudo me está a memória retratando;
Que da mesma saudade o infame ruído
Vem as mortas espécies despertando.»