abril 21, 2004

FUTEBOL. O Bloguítica pergunta se eu não escrevo nada sobre a detenção de Valentim Loureiro. Ó Paulo: mas isto teria de acontecer mais tarde ou mais cedo; infelizmente, acontece apenas com esta dimensão, sendo provável que fique reduzido à pequena futebolada dos clubes da II Divisão B. Já escrevi o bastante sobre as relações entre as câmaras e o futebol; creio mesmo ter sido um dos primeiros portistas a escrever sobre o quanto tinham de justo algumas das decisões de Rui Rio sobre o universo do futebol -- e sobre as relações entre o FCP e a câmara de Rui Rio, sem esquecer os manifestos exageros e ressentimentos que a marcaram.
Casos de corrupção no futebol, e de dimensão muito mais séria, aconteceram já em Espanha, na França e em Itália (mencionemos o «eixo europeu»); o caso que agora está em investigação ou inquirição (eu, esta terminologia passa-me ao lado), por aquilo que se sabe, irá centrar-se na arbitragem, relacionando-se com clubes da II Divisão B e, com pouca probabilidade, com um ou outro «dirigente desportivo». Não deitem foguetes aqueles que acham que «agora vai tudo». Não, «não vai tudo». Este pequeno mundo do futebol, cheio de jantares entre árbitros e «dirigentes desportivos» (uma classe flutuante, hiperbólica), de contactos nos corredores e nos «escritórios de agentes», é apenas um aspecto da novela de costumes que de vez em quando ameaça transformar-se em história policial. Sobre essa matéria, já dei -- e antes de muita gente. Escrevi um livro sobre o assunto. Os «grandes negócios» do futebol têm pouco a ver com «gente do futebol», hoje em dia; a rede de cumplicidades entre o poder político, as grandes construtoras, os «empresários» e o seu marketing, ultrapassam o pequeno delírio provinciano que tem os «dirigentes desportivos» e as suas polémicas como protagonistas. São coisas feitas no fio da navalha, sim, mas também nas franjas da legalidade, aceites pelos poderes políticos (locais e central), detectávais, mas improváveis.
A questão é que a paixão futebolística portuguesa (mais a depressão dos derrotados, a fúria das pequenas multidões, o arrazoado da imprensa e o seu alinhamento clubístico) se alimenta disso mesmo: de suspeitas e de insinuações, de parlapatice e de contínua pressão sobre os «agentes desportivos». Isso há-de, com o tempo, ficar reduzido a nada. Sou um céptico, é o que é.