abril 22, 2004

POR FALAR EM BRASIL. [Actualizado, 15:42h, dia 22.04.2004] Tanto o Diário de Lisboa como o Estrada do Coco assinalaram o feriado brasileiro de Tiradentes, recordando o dia de 21 de Abril de 1792. Em Portugal, seria a Primavera. No Brasil, imaginemos que a temperatura era suave. Joaquim José da Silva Xavier não deve ter podido, nessa manhã, olhar para as águas da baía de Guanabara nem para o céu do Rio de Janeiro de então. Ao longo de três horas, percorreu — em passo de procissão, lento, mas supõe-se que sem serenidade — um caminho terrível que o levaria à morte, pelas ruas da cidade, até ao Largo de Santo António. Aí, rezou um «credo» antes de ser morto. Dividiram o seu corpo em cinco partes — a cabeça foi levada para Vila Rica, no caminho de Minas, para ser exibida como exemplo. O resto do seu corpo foi espalhado por essa estrada. Em Vila Rica, hoje Ouro Preto, o governador local ordenou três dias de festa por ocasião da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Os nomes da Inconfidência Mineira incluíam também Francisco de Paula Freire de Andrade, José Álvares Maciel, Cláudio Manuel da Costa, Tomás António Gonzaga ou Joaquim José da Silva Xavier.
Em homenagem ao supliciado, a cidade onde — em casa do padre Corrêa de Toledo e Mello, o padre misterioso — se reuniram por várias vezes os conjurados, recebeu o nome de Tiradentes em 1889, depois de se ter chamado Ponta do Morro (quando se descobriu ouro na região), Arraial da Ponta do Morro de Santo António (homenagem dos garimpeiros e moradores ao santo, a quem dedicaram uma pequena capela) e São José del- Rei (em 1718, quando subiu à categoria de vila). É hoje uma pequena cidade turística, a primeira cidade mineira para quem vem do Rio, um conglomerado de ruas que lembram, com os seus apês — árvores gigantescas e de belíssimas flores coloridas —, o mesmíssimo emaranhado de então: casas portuguesas, palácios reconfortantes, ruas de empedrado.

Nem de propósito, o Estrada do Coco (e o Diário de Lisboa, vejo agora) assinala também a chegada de Cabral ao Brasil, que agora se comemora, citando uma das canções mais divertidas de Gonzaguinha, «Desenredo»: «No dia em que o jovem Cabral chegou por aqui, ô ô/ Conforme diversos anúncios na televisão/ Havia um coro afinado da tribo tupi/ Formado na beira do cais cantando em inglês/ Caminha saltou do avião assoprando um apito em free bemol...»